O que é o Instituto - uma compilação, um movimento, um estúdio, uma fraternidade, um núcleo criativo? O que é um produtor, o que é um DJ, o que é um artista solo, o que é um "projeto"? Na música pop atual as barreiras entre categorias vêm sendo anarquicamente borradas e ignoradas por uma geração para quem a tecnologia é apenas um isqueiro para acender o rastilho da criatividade, e a "assinatura" é mais uma oportunidade para bagunçar a noção de autoria: Remixes em que não aparece nada da gravação original, ou a aparição do chamado "bastard pop", onde moleques simplesmente acoplam samples de duas ou mais músicas, à revelia de gravadoras, para criar um hit instantâneo pela Internet - este é um mundo de pesadelo para os carcereiros da cultura... Ou um mundo de possibilidades para quem tem algo a dizer, e curiosidade para ouvir o que está estourando em volta. Rica Amabis (autor do brilhante álbum Sambadelic), Tejo Damasceno & Daniel Ganja Man são os caras. Produtores, criadores, engenheiros, parteiros, músicos, médiuns, patchworkers - o Instituto é uma resposta: Instituto - Coleção Nacional, a coletânea, é um retrato do que a música internacional brasileira poderia ser ou será a partir de agora. Aquela cruza saudável e desinibida entre samba e dub, hip-hop e coco, computadores e cavaquinhos, lounge e senzala music/ Uma mistura longamente intuída e raramente conseguida/ Sonho de djaps, euros e armadores locais/ Com credenciais e chaveco para arrastar na mesma viagem sonora o povo da Nação Zumbi, do Planet Hemp, Bonsucesso SambaClube e Autoload, Sujeito A Guincho e Ultramen, Comunidade Nin-Jitsu e Mamelo Sound System, Dona Cila do Coco e Kid Koala (!) e mais uma pancada de gente. Em comum: As 14 faixas do álbum têm inspiração e qualidade. A mesma qualidade evidente nas trilhas compostas para os filmes O Invasor (lançamento simultâneo do selo Instituto, onde protagonizam Sabotage e Paulo Miklos, nas telas e em algumas faixas) e o vindouro Seja O Que Deus Quiser, de Murilo Salles; sem esquecer da mixagem que o Instituto fez para o novo álbum dos Racionais MCs. É quando surge a segunda linha que o Instituto cruza como se simplesmente não existisse: aquela maldição que, no Brasil, parece separar a invenção da qualidade técnica. Como se todo artista explosivamente criativo estivesse condenado a ser tosco no acabamento, e toda produção state-of-the-art estivesse condenada a per(man)ecer na mão de publicitários... Desassombrado com a tecnologia, o Instituto de Rica, Ganja Man & Tejo não hesita em botar suas ferramentas de luxo a serviço das vozes espertas das ruas - sem paternalismo, com o ouvido atento de quem quer saber onde está escondido o combustível para tocar fogo no velório da MPóstumaB - e que vozes essas. Gaspar, Funk Buia e Fernandinho Beatbox do Z'África Brasil, Rappin' Hood, BNegão, Sabotage alinham suas diátribes em raps de (im)pressão forte. No instrumental: Luca Raele à clarineta, a flauta de Alexandre Basa e o trombone de Quincas, os baixos de Dengue, o cavaquinho e o violão de Maurício Tagliari, a percussão de Pupilo, as baterias de Sapotone e Tony "Liquid", do clã Gordin; Mais os scratches de Zégonz, DJ Periférico, Marco PMZ, do gringo Koala. Na praia da sampleagem e edição de sons, Quincas Moreira e Flu mostram suas habilidades consideráveis... e isso é só o começo, mas o espaço de um release é pouco... Pontos (mais) altos: correndo o risco de ser injusto, os destaques vão para o escorregadio coco-dub "Juntando O Coco" com Dona Cila/ as "Tabocas" com o povo do Z'África/ "Só Vou Deixar Os Ossos", crônica socinistra de Fred Zero Quatro/ "O Dia Seguinte", encontro tortuoso de BNegão e Otto/ o samba malacaço rimado em "i" do Sabotage, "Dama Tereza"/ ... Em tempo: no departamento de visuais do Instituto pontifica Rodrigo Silveira, responsável pela capa intrigante, sobre fotos de Márcio Simch, & pelo site (www.seloinstituto.com, breve na rede) onde tem explicação - ou não - pra coisa toda... ...e isso é só o começo... e isso é só o começo... |